João Kepler é um dos grandes nomes do empreendedorismo do Brasil. Kepler atua como Investidor Anjo em diferentes empresas e é um grande entusiasta das Startups Brasileiras, além de ser escritor sobre o tema e palestrante. Esse ano, Kepler foi eleito como Melhor Investidor-Anjo de 2015 pela Spark Awards 2015, a maior premiação do ecossistema de Startups e Empreendedorismo!
Kepler, quando falamos o seu nome lembramos de empreendedorismo, startup e todo esse universo de novos negócios. O que representa o empreendedorismo para você?
Para quem não sabe, durante muitos anos passei empreendendo meus próprios negócios, na verdade eu nunca deixei de ser empreendedor, até porque, como diz meu filho empreendedor Davi Braga, empreender está no nosso DNA.
Somente em 2009 comecei a estudar o modelo de investimento Anjo e a investir efetivamente nos negócios de outros empreendedores. Usava como investimento os recursos gerados pelos meus outros negócios e eram frutos do meu trabalho como empreendedor. Naquele momento comecei a usar dois chapéus, o do Empreendedor e do Investidor, depois fui deixando aos poucos o do Empreendedor. Nada diferente da história dos muitos empreendedores que viraram investidores, aliás, eu acredito que essa é a ordem natural das coisas no ecossistema empreendedor.
Convivo com o empreendedorismo todos os dias, dentro e fora de casa. Vai além de um comportamento, é uma alternativa ao desenvolvimento econômico de qualquer País.
Recentemente você foi eleito o melhor Investidor-Anjo do Ano pela Spark Awards 2015, você pode contar um pouco o que é ser um investidor anjo e como essa iniciativa tem mudado a vida de vários empreendedores?
Apesar de amplamente difundido, ainda existem dúvidas sobre o que é Investimento Anjo. O Investimento Anjo pode ser definido como apoio em negócios no seu estágio inicial, mentoria, aconselhamento, fornecimento de infraestrutura, suporte, networking, tempo e dedicação. Na prática, porém, é muito mais do que isso. É o aval e o ombro amigo que o empreendedor precisa para levar seu sonho adiante e, claro, também o suporte para sistematizar o investimento financeiro a título de “cash-in”, com finalidade de suprir necessidades mensais em troca de um percentual do negócio.
Comecei a atuar como Investidor Anjo há 6 anos, no começo era muito mais difícil fazer investimento Anjo no Brasil. Primeiro, porque o assunto não era popular e não se tinha o entendimento que temos hoje do que seria investimento em negócios inovadores. Segundo, porque como não existiam muitos casos práticos divulgados, não tínhamos referência e como aprender com os erros alheios. Era de fato uma grande aventura! Hoje a situação é completamente outra no Brasil. Existe uma enormidade de informações e conteúdos sobre o assunto, e diversos casos de sucesso, e muitos outros de insucesso que servem de base e aprendizado.
Pois bem, conheço vários Empreendedores que receberam apoio e aportes de Investidores Anjo e que estão muito bem no mercado. Como disse, esses Anjos podem ser conselheiros, mentores ou simplesmente torcedores para o sucesso do negócio investido.
Seu novo projeto é o Bossa Nova, que foi descrito como “uma vaquinha de investidores”, explica um pouco mais como funciona?
Recentemente tivemos no Brasil o surgimento das Plataformas de Equity Crowdfunding, que são também apelidadas de “Vaquinha de Investidores”. Na verdade é uma forma de captção de recursos para startups em troca de participação no negócio.
O investimento funciona como uma espécie de mini IPO da startup (como se fosse na Bolsa de Valores), baseado em uma oferta pública de ações de uma startup, qualquer investidor cadastrado pode RESERVAR um valor que tenha disponível para investir em uma startup. Após completar a rodada com o valor que a empresa está captando, a plataforma chama os que reservaram para fazer o depósito do valor. Esse desembolso demora em média 30 dias. A partir dai, o investidor recebe uma cota/ação proporcional ao valor que investiu através de um Título de Dívida Conversível (TDC), que é um documento no seu nome que garante sua participação naquele negócio. Esse contrato / TDC pode render dividendos e principalmente ser convertido em ações no prazo máximo de 5 anos. Pode também ser resgatado no vencimento com juros definidos pela startup.
No Brasil, a Plataforma Broota, por exemplo, foi pioneira no modelo de ofertas Públicas de Startups com dispensa de registro autorizada pela CVM (Comissão Valores Mobiliários). Com isso, está acontecendo o que eu chamo de: Democratização do investimento Anjo no Brasil. O que antes era restrito para poucos investidores qualificados, hoje diversos iniciantes estão optando por esta modalidade, até mesmo os mais experientes investidores estão usando frequentemente essa ferramenta para diversificar o portfólio e sua carteira de investimentos.
Eu sou na Plataforma Broota um investidor âncora, ou líder. Faço a oferta do negócio no mercado e o relacionamento com todos os investidores que aportaram. O papel deste líder é avalizar o que a startup está afirmando e te dar uma garantia adicional baseado na tese de investimento naquele modelo de negócio. Por isso, se começar a investir ou captar recursos, dê preferência para negócios que sejam liderados por investidores experientes, que tenham trackrecord, esses de fato tem um faro aguçado e são mais assertivos, além disso, não aceitam ser âncora de qualquer startup.
Recentemente fui convidado pelo investidor Pierre Schurmann, da Bossa Nova Investimentos, que é uma das principais investidoras em startups no Brasil, com um portfólio com mais de 15 empresas que, juntas, já valorizaram mais de R$50.000.000,00. Criamos um novo Sindicato na Plataforma Broota, para reunir um grupo forte de investidores qualificados, que tenham interesse em conhecer e receber em primeira mão todas as nossas escolhas e ofertas. Este Sindicato tem como objetivo ser o principal canal de captação da Bossa Nova, sendo parte de uma estratégia única da Rede Bossa, que reúne empreendedores, investidores e especialistas para ajudar os melhores times a executar os melhores projetos.
Você permeia do empreendedorismo online ao offline, recentemente você apoiou o projeto pioneiro do Sebrae Nacional, o “Compre do Pequeno Negócio”, como foi ter esse contato com as pessoas que vivem do varejo e qual região do Brasil que mais te surpreendeu?
Como minha atuação sempre foi voltada para o mercado PME, eu apoiei o movimento do Sebrae Nacional que incentivou a população a COMPRAR do Pequeno Negócio. Uma iniciativa muito importante para incentivar, instigar e fomentar a compra e o consumo nos Pequenos Negócios. Importante para eles, importante para a economia. Por conta disso, ministrei diversas palestras e workshops no pequeno Varejo para PREPARAR e CAPACITAR esses pequenos varejistas para entender, receber, atender e vender para esse novo consumidor e clientes da sua região. Seja no presencial ou no virtual.
Sobre a região que mais me surpreendeu, foi a do Sul, precisamente o Paraná. Andamos em muitas cidades deste Estado com o Projeto #VarejoShow ajudando os lojistas a desenvolverem novas habilidades, a inovar, a abrir a cabeça para as oportunidades do novo consumidor e do cliente da sua região. A experiência foi incrível, foi um MBA presencial, tenho certeza que aprendi muito mais do que ensinei, pois tive a oportunidade de fazer uma imersão em várias lojas e problemas diferentes, uma verdadeira experiência prática.
O que devemos esperar do mercado online em 2016?
Este ano uma das palavras mais utilizadas no mercado foi a FIGITAL, que é a união de Físico com o Digital! Que é a criação de uma interação entre a marca e o consumidor nesses dois mundos de forma simultânea. O Figital está desafiando a abordagem dos modelos tradicionais de marketing, no sentido da construção de campanhas de marketing integradas, entre ambos os mundos físico / real e digital / virtual.
Em 2016, vamos presenciar diversas iniciativas e aplicações de Figital, mas o que podemos realmente esperar na prática será a INOVAÇÃO. Muitas empresas já entenderam que a inovação não diz respeito somente a tecnologia ou ao mundo Digital. INOVAR é pensar diferente, é buscar novas formas de olhar o que já existe, podemos dizer também que é fazer a mesma coisa de forma diferente.
A grande sacada da inovação é transformar todas as ideias e melhorias que já fez ou que vai ainda fará em seu negócio, em valor real agregado na PERCEPÇÃO do seu cliente, colaboradores e consumidores. Seja com uma imagem inovadora da sua marca, atendimento, produto ou serviço, ou seja, na ATRATIVIDADE ao ponto de conseguir que pessoas impactadas, comentem e compartilhem essas experiências e claro, no melhor resultado, se engajem publicamente com seu negócio.
O ingrediente principal no que for fazer é conseguir a sensação do #UAU (percepção inovadora) nas pessoas.
Para terminar, boa parte dos nossos alunos são empreendedores, qual conselho você pode deixar para eles?
Meu conselho para quem já é empreendedor é que você fique antenado, não se feche para o novo, comece a olhar tudo por outra perspectiva, e procure inovar na sua carreira e se preparar para buscar uma oportunidade neste novo mercado. Se arrisque com moderação! Como eu digo, os vencedores fazem aquilo que os perdedores não tem coragem ou não querem fazer. Avante!
E para quem ainda não é e quer ser, eu digo o seguinte: Não existe receita de bolo para Empreender e não tão simples como parece. O que pode ser feito é ler sobre o assunto, andar em ambiente propício a criatividade, tentar ser mais provocador e incomodado por situações, conversar sobre o assunto, tentar resolver problemas para estimular seu comportamento empreendedor, ou seja mudar atitudes.
É possível sim fazer uma mudança no mapa mental para transformar uma pessoa para que ela seja independente e protagonista do seu próprio destino.
Para essas pessoas eu deixo uma lição de vida que eu recebi de um empresário do interior de Pernambuco, quando perguntei porque e como ele começou a empreender.
<<Quando eu tinha 11 anos pedi ao meu pai para comprar um carrinho que tanto queria. Meu pai respondeu: “Não vou te dar, mas vou te mostrar como você vai conseguir comprar esse carrinho com seu próprio dinheiro. Sobe no coqueiro, pega 3 cocos, limpa, bota pra gelar e leva até a praça para vender por R$ 1,00 cada, aí com o dinheiro dos cocos você compra esse bendito carrinho que tanto quer. Ok?” – Eu topei e fiz exatamente como meu pai orientou, passei a tarde na praça, vendi os 3 cocos e voltei correndo pra casa saltitando de alegria com o dinheiro e disse: “Pai, consegui! Agora posso comprar o carrinho?”. Meu pai retrucou: “Parabéns meu filho, mas que tal investir esse dinheiro para continuar vendendo mais cocos e ganhar muito mais dinheiro? Depois você vai conseguir dinheiro para comprar quantos carinhos quiser”. Foi ali que tudo começou. Aquelas palavras mudaram o meu destino.>>
Na verdade, esse sábio pai despertou naquele garoto o empreendedorismo, a vontade, o controle, os caminhos, as possibilidades e as escolhas.
João Kepler Braga – É Empreendedor Serial, escritor, palestrante e investidor Anjo. Acesse > www.joaokepler.com.br
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