Bem a tempo para as festas de fim de ano, uma série de novos dispositivos promete transformar um smartphone em um bafômetro capaz de medir rapidamente seu nível de sobriedade. Apesar de ninguém dever dirigir um veículo após ter consumido álcool, a realidade é que muitas pessoas optam por dirigir após alguns poucos drinques por não se sentirem comprometidas e acreditarem que não atingiram o limite legal de concentração de álcool no sangue, que (em todos os Estados americanos) é de 0,08 gramas por decilitro.
O padrão de fiscalização da lei para determinar a sobriedade é o bafômetro, que estima a concentração de álcool no sangue indiretamente, ao medir o nível de álcool no ar exalado dos pulmões.
Até poucos anos atrás, ninguém além das autoridades ou do campo médico tinha acesso a preço acessível a dispositivos capazes de estimar rapidamente a concentração de álcool no sangue. Agora há mais de 100 modelos disponíveis ao consumidor e as vendas de bafômetros representam um próspero mercado de US$ 816 milhões nos Estados Unidos, segundo a empresa de pesquisa de mercado Wintergreen.
Mas um bafômetro portátil para smartphone é preciso o suficiente para orientar um motorista incapacitado? Para descobrir, eu comparei alguns dos mais novos bafômetros portáteis para smartphone com a unidade Alco-Sensor IV de US$ 890, usada pela Polícia Rodoviária da Califórnia.
No teste dos dispositivos, apenas um apresentou resultado semelhante ao do modelo da polícia, enquanto um exagerava consistentemente meu nível de embriaguez. Mas é certamente melhor que um bafômetro pessoal erre por excesso –caso contrário, um motorista pode achar que está dentro da margem e decidir dirigir assim mesmo. De maior preocupação é o fato de um modelo popular ter falhado miseravelmente em comparação ao padrão da polícia.
A lição principal do teste é que várias variáveis podem afetar a leitura do bafômetro, incluindo quanto tempo após o drinque você realiza o teste. E como sua concentração de álcool no sangue aumenta em 30 a 90 minutos após a ingestão, uma pessoa pode apresentar sobriedade no bar e se tornar legalmente embriagada no meio do percurso de 45 minutos até sua casa.
Para começar o teste, o policial Sean Wilkenfeld, da Polícia Rodoviária da Califórnia, montou um minibar na mesa da minha sala de jantar. Colocamos lado a lado quatro aparelhos sensores de álcool: o Alco-Sensor IV usado pela polícia, e três bafômetros para smartphone com bocais acopláveis –o BACtrack Mobile Pro de US$ 100 (cerca de R$ 400), o Alcohoot de US$ 100 e o Breathometer Breeze de US$ 80 (cerca de R$ 320).
Todos os quatro dispositivos funcionam de modo semelhante. Sopre no bocal como um canudo para o dispositivo e o conteúdo de etanol na sua exalação provoca uma reação química, medida pelo aparelho e traduzida em uma leitura de concentração de álcool no sangue. Os modelos para o consumidor usam um aplicativo que pode ser baixado que permite ao usuário dar entrada nos dados de sexo, idade e peso, que podem influenciar a leitura.
Para realizar a leitura, os dispositivos aconselham aguardar de 15 a 20 minutos após seu último drinque. Se não esperar, o vapor do álcool na sua boca pode resultar em uma leitura elevada demais.
Eu iniciei o teste bebendo um Bloody Mary. Cerca de 20 minutos depois, quase nenhum dos aparelhos, inclusive o da polícia, registrou qualquer álcool — exceto o Breeze, que apontou uma leitura de 0,054.
Comecei a me preocupar que os aparelhos não estivessem funcionando, mas Wilkenfeld me lembrou que as maiores concentrações de álcool no sangue ocorrem quando o corpo teve mais tempo para absorver o álcool. Para acelerar as coisas para nosso teste, eu preparei um drinque mais forte.
Vinte minutos depois, com cinco doses de vodca no meu sistema, todos os quatro aparelhos apontaram que eu de fato tinha bebido.
O Alco-Sensor IV de Wilkenfeld declarou minha concentração de álcool no sangue em oficiais 0,049, ainda dentro do limite, mas próximo do nível que muitos especialistas dizem estar incapacitado de dirigir. Dentre os bafômetros para smartphone, o BACtrack Mobile chegou perto, com 0,047, e o Alcohoot declarou uma concentração superior, de 0,055. Estranhamente, a leitura no Breeze na verdade caiu, para 0,038.
“Você pode experimentar coordenação reduzida e comportamento exagerado”, o aplicativo do Alcohoot me disse após a mais recente leitura.
Após o teste, cada aplicativo oferece uma forma de chamar um táxi a um só toque. Um até mesmo mostra a você os hotéis próximos onde pode dormir.
Como eu ainda não tinha atingido o limite legal, nós preparamos outro drinque forte. Enquanto aguardávamos pela passagem de mais 20 minutos, Wilkenfeld me submeteu a testes de campo de embriaguez. Eu pude me equilibrar em uma perna, apontar para o dedo do pé e contar. Mas fiquei um pouco confusa seguindo suas instruções, um tanto complicadas.
“Você começa a cheirar como um bêbado”, disse Wilkenfeld ao se inclinar para segurar o bocal do Alco-Sensor IV nos meus lábios.
Com três coquetéis, alguns deles em dose dupla ou tripla, no meu sistema em duas horas, eu agora ultrapassava o limite legal com 0,092 no Alco-Sensor IV. O BACtrack Mobile apontou 0,091, o Alcohoot leu 0,102. O Breathometer Breeze, inexplicavelmente, caiu para 0.
O Breeze, que ganhou popularidade após aparecer no programa de televisão “Shark Tank”, simplesmente não parecia estar detectando o álcool. Eu já tinha experimentado flutuações com o Breeze no passado. Em meados deste ano, durante uma rodada semelhante de testes, uma mensagem de erro no Breeze perguntou se eu poderia lhe dar uma pausa.
Ele não voltou a funcionar. A empresa enviou rapidamente uma unidade substituta pelo correio. Mas essa nova unidade também não estava se saindo muito bem.
Eu parei de beber, mas aguardamos outros 15 minutos antes de realizar minhas leituras finais: Alco-Sensor IV, 0,106; BACtrack Mobile, 0,102; Alcohoot, 0,204; e Breathometer Breeze, 0,000.
“Você não pode depender de um bafômetro pessoal lhe dizer se está bêbada demais para dirigir”, alertou Wilkenfeld enquanto embalava as coisas para ir embora. “Se bebeu, você simplesmente não deve dirigir, ponto final.”
Publicado originalmente em Uol notícias
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